terça-feira, 29 de novembro de 2011

António Lobo Antunes

«e eu a vê-la na outra ponta do autocarro a poisar a testa no ombro de um sujeito qualquer sem reparar em mim, sem reparar sequer em mim como se eu nunca tivesse existido e compreender que por ter deixado de existir não existi nunca, e nessa noite ao olhar-me ao espelho não verei ninguém ou verei quando muito um par de olhos (os meus) que me censuram, um par de olhos com aquilo que ia jurar ser uma lágrima a tremer nas pestanas e a descer devagarinho pela bochecha fora, ou talvez não seja uma lágrima é apenas (porque será Inverno) uma gota de chuva, sabem como é, a correr na vidraça.»