quinta-feira, 10 de novembro de 2011

solidão

Maurício, um brasileiro de tez morena e olhos negros, reunia o sotaque do Sul ao relatar os episódios de conquistas do fim-de-semana, enquanto, disfarçando exageradamente, o seu amigo casado, cujo casamento ficticiamente manteve a vitalidade dos primeiros dias, rivaliza mentalmente munindo-se das recordações da refeição da noite anterior e o beijo na testa que a mulher lhe ofereceu, antes de o abandonar a dormir na sofá moldado ao corpo da sala. No entanto, Maurício corou subtilmente ao recordar o momento em que tardiamente chegou a casa, se dirigiu ao armário escuro comprado em segunda mão para assegurar o carro dispendioso, que atrai mulheres como os pavões utilizam as cores para aliciar as fêmeas, e retirou as roupas de mulher – vestido e casaco de malha amarelos, que vestiu com a ternura de quem despe uma mulher. Deitou-se, depois, na cama exausto, enquanto acariciava o soutien na busca dos seios que não tinha, e que o aproximavam do conforto de uma amante ou uma mãe.