quinta-feira, 3 de novembro de 2011

terminais nervosos

A loucura rende gargalhas e gritos esganiçados no cinema. Entre o triturar e o deglutir de uma pipoca cabe todo um conjunto de perturbações mentais. Tenho a sensação de que a cama onde podias ter morrido, tenho a sensação que morreste tia, mas depois surgiste hirta e revelaste o sorriso plasticinoso dos dias quentes. Estava chuva no meu peito quando morrias. E eu preferi-te morta, a linguagem era comum, podia afagar-te a mão um ano, tia. Hospitais e médicos brancos. Fumei à porta com os tios, julgaram-me adulta porque pedi um cigarro e anuíram nas sinapses enquanto me estendiam o braço. Aprendi a travar meses depois num vão da escada. Eras toda urina e dejectos num hospital de urina e dejectos. Quis juntar-me ao teu colete-de-forças, prometo. Esconder-me debaixo da cama para te oferecer a mão no escuro. Apercebeste-te cedo que eras a menor das loucas no hospital dos malucos. Eu apercebi-me cedo que esperar por ti à porta do edifício era duro. Os toxicodependentes a odiar-me pela janela. As mãos deles no meu pescoço a sufocarem-me, tenho a certeza que odiaram a minha vitalidade juvenil. As pessoas, mesmo quando reduzidas a um diagnóstico clínico, pecam pela superficialidade. Riste-te no regresso para casa. Contaste-nos as façanhas dos loucos e o desconforto e o medo e a falta de vontade de permanecer. A loucura rende gargalhas e gritos. Na rua. No mar. É noite. Quando estiveres a cortar os pulsos, lembra-te da mão estendida debaixo da cama, eu prometo que faço de conta que sou fezes e dejectos e assusto-te como o hospital psiquiátrico.