terça-feira, 15 de janeiro de 2013

verduras

Atravessava a rua sem olhar, os carros desviavam-se enquanto fingia distracção. A carta acusatória na gaveta do quarto, em caso de morte, o culpado foi o homem dos olhos verdes que se senta todos os dias às cinco horas entre cafés e jornais, enquanto ela matrimonialmente o segue pela janela do gabinete de trabalho. O empregador desconfiado com as horas, ameaças de despedimento, se morrer foi o homem dos olhos verdes que se levanta da cadeira tarde demais para que a vida desenrole. A mulher dirige-se para casa, ao fim de cinco anos de observações, com olhos no cérebro e o culpado são os olhos verdes do homem magro que fuma parcimoniosamente entre jornais e livros. O marido gordo espera-a em casa com a carta na gaveta certificando que a culpa é dos olhos verdes. Os olhos verdes dos arbustos do caminho, se morro atropelada, alguém do trabalho saberá quem são os olhos verdes, encaminhar-se-à à esplanada. Os olhos verdes que nunca me tocaram o rosto, nem por desvio, hão-de conhecer o meu rosto, depois serei a carta do homem dos olhos verdes do café guardada na gaveta.