Eram sete horas quando o filho da puta para cima e filho da
puta para baixo do filho da Glória descia a rua enfiado nos bolsos carcomidos
pelas traças. Todas as tardes vagueava pelas ruas tropeço em pensamentos
nocturnos. Às sete e dez encontrava a Joaninha à porta da escola com as suas
saias curtas, a mostrar os joelhos doridos das quedas do intervalo e todos os
dias simulava o desprendimento de um olá enquanto se convencia de
que a Joaninha nos seus sete anos de idade apenas poderia beijar os moços que
lhe levantavam a saia nos corredores da escola onde ele havia levantado outras
saias vinte anos antes. A Joaninha sorria-lhe com a língua no meio dos dentes
que lhe faltavam e ele assegurava-se de um amor irremediável. Encaminhava-se
para casa, curvado de promessas, certo de esperar pela erupção dos seios, o
surgimento dos caninos, a saliência das ancas, os pêlos púbicos e o avanço da
engrenagem hormonal. Chegava a casa, dirigia-se ao calendário, riscava mais um
dia, cada vez mais próximo dos seios, do ventre, da boca.