domingo, 2 de fevereiro de 2014

zarolho

Lá vem outra vez o desespero da escrita. Os meus dedos num dedilhar de inconsistência, lá se foi outra vez a vitalidade que é o contrário da depressão segundo o sermão de vinte minutos do André que ouço quando acordo às cinco da manhã com a certeza de que ficarei na cama afundada até às cinco da tarde. O frio do Inverno ataca-me os olhos, às vezes cai-me uma lágrima no olho esquerdo. O olho direito a gozar, choramingas. O olho esquerdo fica sempre na cama até tarde, zarolho sem vitalidade. Esta não opção de viver. Se escolho não viver, forço-me a viver porque escolho. Os oxímoros das quatro cinco seis sete da manhã a martelarem-me o cérebro, milhares de sinapses desdenhosas, o meu cérebro não se cala porque se diverte e o meu olho esquerdo a latejar de falta de vitalidade, cala-te André! Desde que te ouvi em Dezembro a falta de vitalidade colou-se na minha pele. Juro que Janeiro é o pior mês do ano. A sanita a despejar-me as merdas em cima. O dedilhar dos dedos nas pernas, escrevo na invisibilidade, não quero escrever, quero a vitalidade do André e correr até à praia. Correr até longe, uma cabana, um martelo, cortar lenha para a lareira, aquecer o corpo com licores, regar o corpo com gasolina e enfiar-me na lareira porque a vitalidade da corrida não me aqueceu.