sábado, 27 de setembro de 2014

beliche

Aos 24 anos, feito de asas multicolores, um benjamim na cabeça, às vezes cabelo de galo a imitir jogadores de futebol feiosos iletrados, uma boca e olhos de cão. O Agosto das noites quentes nos pés húmidos da relva molhada. É preciso cessar para nos cair a imensidão nas clavículas. A Raisa que queria os meus ossos numa caixinha. Os teus ossos numa caixinha com o meu cabelo. Se rapar o cabelo abro a caixinha. O beliche do Algarve e o do teu quarto. Dormimos tantos anos juntos. Já era incestosos e eu ao teu lado, em baixo, por cima. O Bruno a foder-me as férias e tu pequeno a amparar-me os olhos de São Bernando ranhosos. A meningite que me deixou com defeitos nas cordas vocais, se ouso dirigir-te palavras meigas, uma interrupção, uma tosse, uma teimosia em abolir confissões. Este coração cor-d'-aço. A Virginia com as pedras nos bolsos a martelar-me. O ribeiro, a piscina, o mar. O meu corpo tão pesado que me afogaria no lavatório. Aos 24 anos, a tua pele morena nas cuecas coloridas, - homem nu! - e a correres. O início do desdém. Se corto as cordas vocais, uma procissão de amor. O teu nariz perfeito. O teu rabo de preto. As tuas mãos duras, cruzadas, como num abraço, onde eu falho. onde sempre falhei. Quero os meus ossos na caixinha com os teus ossos. O teu nariz na minha cara. O meu cabelo na tua cabeça de velho careca. Braços ósseos entrelaçados a gritar o silêncio. O meu corpo, incestuoso, colado ao teu, para sempre.




no teu nome principia a saudade.