quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

imaginários II


A frase de um judeu a entalar-me as goelas, qualquer coisa como: daqui sai-se apenas pela chaminé. E, no entanto, milhares de homens que seguem, que caminham e trabalham, porque é imperativo e o corpo não admite quebras.
Recordo-me da mulher da sala de espera de Psiquiatria a declarar, direccionada para a filha, que aqueles que desejam morrer são deficientes e imediatamente a seguir a acrescentar que também o desejou, mas que ultrapassou essa vontade. Uma mulher gorda, ex-deficiente segundo a própria, munida da metafísica da esperança e de deus, a motivar o encerramento de punhos e elevações de pernas na sua direcção, a sua cara desfeita em três segundos, enquanto um esquizofrénico maldizendo Portugal e os portugueses, a desejar vazões pelas chaminés, ostenta a mala na direcção de um homem em pijama. Uma dúzia de tolos agarrados ao peito, por desconhecerem noções de fisiologia, o cérebro dilacerado e emotivo, e no entanto, é tudo muscular, que importa o cérebro ou o coração, numa certeza bicuda da disfuncionalidade.
Entram na sala do Psiquatra, que imediatamente alcança o bloco das receitas, certo de prescrever milagres que apenas neutralizam doenças por abaterem o ego, no fim, é tudo? E a pergunta do tolo, quanto tempo viaja o fumo? É que hoje apetece-me sair pela chaminé.