sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

identificação


Acendia mais um charuto enquanto se encharcava do licor de amêndoas de sabor odioso que sobrara dos seus setenta e dois anos agora solitários. Aproximava-se da morte propositadamente numa sede de término. Ao revirar as memórias como folhas gastas, desprezava a necessidade de prorrogar o sémen numa busca de continuidade inesgotável, assemelhando-se a um cão indisciplinado que marca todos os recantos do território com mijo. Os filhos mortos, numa árvore genealógica terminada, remetiam-no para a constatação do seu fracasso na perpetuação da espécie em vez da aprendizagem da escrita, pois permitir-lhe-ia lapidar o seu nome em cada pedra da casa onde será encontrado quando o cheiro podre do seu corpo começar a incomodar as narinas dos transeuntes.