O desamor atirou-a para as esquinas da cidade onde os carros
paravam com propositada distracção para evitar eventuais encontros com polícias
barrigudos que sacassem das algemas e do cacete e lhes amortecessem a erecção
com meia dúzia de palavras cuspidas em realces de oclusivas convictas. Entrava em
carros desconhecidos sem pudor ou medo e desprendia-se do corpo entre camas
sujas e cigarros apagados nas costas das mãos. Os homens existiam num vai e vem
de pénis e vaginas e de entrar e sair pela porta das traseiras envergonhados
pela mulher e os filhos que subitamente lhes assomavam na memória e a quem vagamente
justificarão o sumiço com histórias de trabalhos súbitos e emergências amigáveis
de cujos nomes a mulher nunca ouviu mas cristalizada na bolha de perfeição familiar
beija o marido nos lábios e na língua que vinte minutos antes lambiam
avidamente o ânus da Anita.
Anita sorria distraidamente pela janela enquanto relembrava
a destruição que facilitava. Os casamentos arruinados por cartas que enviaria
com detalhes mórbidos de fantasias sexuais que concretizava apenas para exibir
a sexualidade que as esposas castravam, na busca incessante do papel de cristã
púdica que beija o resto do pão antes de o atirar ao lixo, numa culpa de classe
média que podia mandar o resto do pãozinho para África e cessar a fome de uma
criança. Denunciava os maridos por desprezo pelas relações, não antevia
desfechos floridos para o seu papel, apenas procurava exterminar o absurdo do
casamento, as entrelinhas caladas dos votos, que ditam que para a vida e para a
morte se suportará a porrada e a ofensa com a porta fechada e sorrisos abertos
em desfiles programados na rua, enquanto o marido esfrega os olhos endiabrado
com as pernas da vizinha do terceiro andar que podia foder todos os dias, mas a
pobre coitada nem com pagamento o aceitaria.
Anita casou-se aos vinte anos.