domingo, 29 de julho de 2012

Rosinha e as artes III

Rosinha enchia a despensa de cadernos Moleskine onde escreveria os seus romances que a tornariam um sucesso. Quando chegava a hora de cozinhar, Rosinha dirigia-se ao lugar das cebolas para começar o estrugido e deparava-se com os milhares de Moleskines a ocupar as prateleiras das conservas e das batatas. Cadernos de capa preta em vez do atum e das salsichas, empilhados em forma de pacotes de massa milaneza. Rosinha sentava-se em cima das pilhas de cadernos expectantes por letras e procurava resquícios da comida que sabia não ter, por isso adicionou ao estrugido as primeiras folhas do Moleskine da pilha das cebolas e assumiu que depois de digerida a poesia havia de assomar-lhe nos dedos.