sexta-feira, 27 de julho de 2012

Catarina e as cuecas

A primeira vez que Catarina esbarrou com o pai a cheirar-lhe as cuecas usadas na véspera pensou que preocupação paternal o levaria a hábitos ultrapassados da ciência. Deambulava pela casa curiosa em saber se possuiria uma doença vergonhosa, mas a ansiedade não foi seguida de satisfações. Aos doze anos, depois da aula de ciências naturais do colégio, onde aprendeu que em tempos remotos os médicos provavam a urina para detectarem determinadas doenças, resolveu testar o pai passeando-se pela casa munida de um copo mijado, forçando a mãe a repreendê-la por tornar a casa numa sanita ambulante. Finalmente, numa noite em que a mãe adoecera, tendo-se aprisionado na cama, o pai movimentou-se cautelosamente pelo quarto, entrando, vagarosamente, nos seus lençóis semi-nu enquanto procurava os genitais da criança. Catarina abafou o susto na almofada e permaneceu imóvel durante a inspecção paternal, enquanto pensava que se o pai não lhe relatasse pormenorizada a sua condição de saúde, na tarde seguinte haveria de solicitar os serviços do médico da mãe, pois o secretismo paternal face às suas avaliações da condição genital ao longo dos anos começava a preocupá-la.