terça-feira, 23 de outubro de 2012

intestinos

A dor é um baloiço estomacal: fodem-me os neurónios sensitivos com palavras duras e projectam-se dias de diarreias e vómitos infernais. Bebo chás de camomila e cidreira para atenuar os desequilíbrios emocionais: a barriga cheia de um líquido quente, visceral a distrair-me das dores. O amor apaga-se com inundações de chás nauseabundos, visitas a casas-de-banho públicas rezando ao senhor para que não ouçam a merda a cair, geralmente quando a merda cai é um estrondo, tenho vergonha que o meu corpo se divirta a ruborizar-me as bochechas com o som da merda a cair, quando caio faço tanto barulho, um metro ao longe, se caio um terramoto sonoro, a mulher da limpeza olha-me: olha aquela merda a cair, quando caio o senhor do autocarro pára, garanto que o meu corpo é oco e expande os movimentos intestinais, desculpo-me com os olhos no chão a impedir que me decorem os traços, a criança pela mão de uma mulher a fixar-me, enquanto me acusa, se abro o estômago encontro intestinos grossos de uma diarreia contínua de amor até cessar, depois silêncio.