segunda-feira, 26 de agosto de 2013

A morte saiu à rua


Se saio à rua fode-me os olhos claros a luz. A minha depressão já merecia uma nuvem que me protegesse dessas demonstrações exuberantes de vida. Lembro-me da Virginia Woolf com a minha cara chapada pelos vistos, a cravar-me nos miolos a frase de que a vida impera, se a vida impera porque não sai o meu corpo da cama? O aborrecimento dos dias iguais. O sol ardente nos meus olhos a lembrar-me o sol ardente de ontem e o sol ardente de anteontem e o sol de todos os dias numa violação continua mesmo nos dias cinzentos em que o céu enublado se abre para mim, porque os dias nascem para me foder, garanto. Se a morte saiu à rua com o Zé foi para troçar-me. Zé, meu amigo, que saudades do pintor que morreu e te levou enquanto fico aqui a esmorecer nesta cama enquanto a vida impera, um relógio que nunca pára mas os dias iguais. Estes pensamentos circulares da repetição do aborrecimento, da morte que não me mata a depressão, que me aflige os neurónios ou as narinas, onde está a depressão? As minhas pernas não andam. Tenho as pernas deprimidas. Quando puderes Zé, traz-me a morte ao quarto.