segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Fatalício

Gritos infantis de prendas de pai natal e uma mãe natal de bigode que não cabe na chaminé, a minha tia a usar brincos enquanto finge que é um pai natal barrigudo quando obviamente não precisa de fingir que três fetos lhe nascem nas entranhas. Se natal dura mais do que duas horas, suores, calafrios, a merda da família em quem nunca penso em abraços, um sorriso falso que arranquei das nádegas, cansaço matinal a lançar-me para a rua, para o carro, para a Ásia, para o raio que partam para longe daqui, para longe da minha avó torta, sinto-me velha e tenho avó, o natal das incongruências, sou neta e tenho sangue velho, podre, insatisfeito, cansado, a derreter-me nas veias, se amanhã é natal, por mais um dia, juro que me atiro para o carro, hoje a ribanceira parece-me de um castanho de chocolate de leite.