quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

varanda

Quando alcanço a rua estreita da tua casa rodeada de campos, tento avistar-te ao longe - se te avistar ao longe os quinze anos - mas não estás sentado na cadeira vermelha e, no entanto, não desisto de subir as escadas na esperança de atingir a varanda e encontrar-te debruçado no parapeito a vislumbrar os campos e as plantações e os animais e 1975 e a tua mulher e o teu grito e vou contigo. Asseguro-me, ao subir a escadaria, de que ao encontrar o teu chapéu no teu rosto bonito, volto aos dias em que dizias:
- Quem é esta?
E era eu avô.
- Que grande e bonita.
A minha estética a salvar-se pelo amor paterno. Que grande e bonita nos meus quinze anos. Subo as escadas com a certeza que se estiveres no cimo da escada, perco o desinteresse pelos beijos e dou-te um abraço avô. Prometo que se estiveres sentado na cadeira vermelha, à espera de ver crescer as laranjas com os vasos sanguíneos à superfície, largo o desprazer da apatia e lanço-me balão de São João.
Estou quase a alcançar a varanda.
Garanto-te que se estiveres sentado na cadeira vermelha, atiro-me contra as silvas que começam a devorar a casa. Muno-me de um retroescavadora, tractores e veículos que tais e faço-me aos campos a lembrar-me do cheiro a terra do teu hálito. Confesso avô que se hoje estiveres sentado na tua cadeira vermelha, à espera que eu apareça na curva, me desfaço numa cabrita, corro as escadas e me sento no teu colo à espera de uma história.