No inverno, o frio lava as ruas dos mendigos, alguns inusitados alcoólicos que se enganam na cama, duas ou três prostitutas que nesse dia chegam atrasadas ao seu dono e levam uma sova que as deita por terra, uma família recentemente sem tecto que se abriga nos bancos plásticos do carro, com vidros tapados com jornais e corpos enrolados em caixotes. O governo a aceitar com sorrisos os números invernais, temperaturas mínimas negativas e as ruas varridas da escumalha humana que não produz, os inaptos a serem dizimados por falta de uso. E, se ao atravessarem a rua, encontram um rosto que restou, acende-se a esperança do novo Inverno que se encaminha para executar a selecção natural que beneficia a economia.
